CARLOS AUGUSTO LIMA
( Brasil – Ceará )
Carlos Augusto Lima nasceu em Fortaleza, em 1973.
É autor, entre outros, do manual de acrobacias n.1 (Ed. da Vila/Ed. da Casa, 2008), O Livro da Espera (Alpharrábio, 2011), Três poemas do lugar (La Barca, 2011) e Motociclista do globo da morte (1973 Edições, 2016).
Publicou, ainda, dois mil e quatrocentos quilômetros, aqui, em parceria com Tarso de Melo, pela Luna Parque (2018).
Depois vieram O livro de Carolina (7Letras, 2019) e A medida da luz (Alpharrábio, 2019).
Tem poemas, artigos e resenhas publicados em revistas e suplementos literários no Brasil e exterior, tanto em mídia impressa quanto eletrônica. Mestre em Letras (Literatura Brasileira) pela Universidade Federal do Ceará, onde defendeu dissertação sobre a obra do poeta Antônio Carlos de Brito, Cacaso.
No doutorado, também pela UFC, defendeu tese sobre a narrativa de
J. M. Coetzee a partir das ideias de testemunho, vergonha e sacrifício.
Foi membro fundador da ONG Alpendre – casa de arte, pesquisa e produção (Fortaleza), onde coordenou a área de literatura, desenvolvendo projetos de formação, pesquisa, divulgação e inclusão social da área. Também foi coordenador do núcleo de literatura do setor de capacitação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Fortaleza), voltando suas atividades, principalmente, para a elaboração de projetos e formação de público leitor e produtor na área da Literatura.
É autor de livros-objeto-mínimos, táticas de guerrilha. Tudo o que publica tende a desaparecer, ele acredita. Atualmente, lê e estuda sobre a relação interespécies e tenta desarmar a separação que inventaram entre si e a Natureza. Pai de Sofia e Valentina (suas obras mais relevantes), caminha sempre para onde aponta a flecha do tempo, em guarda, até chegar a hora de perdê-las de vista.
Fonte e foto: https://circulodepoemas.com.br/
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LIMA, Carlos Augusto. O livro da espera. 2ª. Edição. Santo André, São Paulo: Alpharrabio Edições, 2010. S. p. Tiragem: 92 exemplares. Ilus. Por Fátima Roque e Luzia Maninha.
Ex. no. 91 bibl. Antonio Miranda
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eu espero alguém para conversar, alguém para dizer: fiat luz. que todas as coisas funcionem, que todas as pessoas não saiam de casa com perfume tão doce, a mordiscar meu estômago frio, como relembro agora a tia negra e gorda, seus badulaques de orelhas, dedos, um lenço densamente lisérgico cobrindo o cabelo raro duro encaracolado de branco agigantando-se de ternura, livre-arbítrio e presentinhos baratos, agora teimo entre o oceano que poderia me levar até um lugar com nome: Praia, e a irrisória decisão entre o ser deus ou um técnico de eletrodomésticos, ao passo que, entre senhor das desgraças de todas elas, opto por alguma dia, quando for, que seja, tornar à vida este liquidificador surrado e seus pares, que todas as coisas funcionem.
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eu espero que antônio ligue, espero que antônio possa me ouvir, eu estarei atento enquanto ele me disser da impressão que teve de sua última estadia na Holanda, todos os dados possíveis, dos quilômetros percorridos, assuntos comprados, souvenires. eu vou fazer silêncio, e todos os meus mais queridos amigos se abrigam no quarto-e-sala aqui do lado. eles dormem. eles se levantam e se banham. eles comem se criam gueiras e escamas ao entardecer. mas é assim que os reúno para festejar. fazei isso para celebrar a minha memória. digo. e, depois. Corro par a água e desapareço.
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 16 – 1º SEMESTRE 2004. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi. Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2004. 176 p.
ISSN 1415-9767. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
AGOSTO
o vento anulou o que
de fotográfico havia
tamanha mobilidade que
nos jarros habitara
verde macerado estrumo —
a coberta reservada
à samambaias foi
recente retelhada e
untaram as treliças
que avizinham com
viscoso líquido, mais
alguns dias recairá
sobre a colônia de cupins
que ali se instalara,
calamidade e morte. — no
mais profundo das coisas
a ordem do dia retesada
DIA
vento, vento
borrasca e erupções vulcânicas
no meio da sala
adormecem anjos calvos com
tez
de vinil. canastras, desfolhados
livros,
um ogro operou terror
agrimençou herdade
calculada entre a
varanda e mesa de jantar
*
Página ampliada e republicada em dezembro de 2023
LIMA, Carlos Augusto. Manual de acrobacias n. 1. Fortaleza, CE: Editora da Vila, 2009. 72 p. ISBN 978-85-7690-008-5
Exemplar na biblioteca de Antonio Miranda
AGOSTO
o vento anulou o que
de fotográfico havia
tamanha mobilidade que
nos jarros habitara
verde macerado estrumo —
a coberta reservada
à samambaias foi
recente retelhada e
untaram as treliças
que avizinham com
viscoso líquido, mais
alguns dias recairá
sobre a colônia de cupins
que ali se instalara,
calamidade e morte. — no
mais profundo das coisas
a ordem do dia retesada
DIA
vento, vento
borrasca e erupções vulcânicas
no meio da sala
adormecem anjos calvos com
tez
de vinil. canastras, desfolhados
livros,
um ogro operou terror
agrimençou herdade
calculada entre a
varanda e mesa de jantar
*
Página ampliada e republicada em dezembro de 2023
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Página publicada em janeiro de 2023
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